Mas o meu amigo Lucian respondeu-me:
— Estás a confundir imagem-objeto com imagem-evento. O que se pendura é um suporte. O que se vive é uma aparição. A imagem, portanto, não é algo que se olha, mas algo que acontece. Ela advém. Ela age.
E é por isso que pode comover mais do que uma instalação elaborada…
— Porque acontece. Age… E é por isso que pode comover tanto, ou até mais, do que uma instalação sofisticada: porque ocorre em nós, não na parede.
Preso num turbilhão de pensamentos, repeti quase mecanicamente as suas palavras…
Uma ideia atravessou-me sem que eu a tivesse visto chegar… Vi as paredes da galeria como um lago de memória, onde as obras emergem e mergulham novamente, como formas do recalcado coletivo. De repente, falava como Lucian, que me observava com um sorriso — um sorriso benevolente que me encorajava a continuar.
— Aquilo a que chamamos “património” é um ciclo de desaparecimentos e de regressos… Permite-me lembrar-te que a palavra património vem de paternidade, do pai…
Perguntei-lhe por que motivo fazia essa observação. Ao que ele respondeu:
— Porque há pouco falavas de um desenho de criança… A criança estaria, assim, ligada ao pai através do património… isso faz dela um herdeiro responsável… daquilo que apenas aparece e desaparece… Assim, poderíamos imaginar que a figura solitária sobre a sua rocha enfrenta o seu património…
Cada exposição não é mais do que uma emersão. E nós — críticos, visitantes, espectadores —
somos as testemunhas dessas aparições:
os que vigiam os remoinhos do visível.

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