“As imagens são como espelhos: não mostram nada além do que projetamos nelas. Acreditamos estar olhando para o mundo, mas é a nós mesmos que vemos, no reflexo trêmulo dos nossos próprios sonhos.”
Jean Starobinski, O Olho Vivo
Aproximei-me, de forma algo indiscreta e brusca, do caderno no qual ele parecia, a meus olhos, apenas fingir que escrevia… mas conseguiu, mais uma vez, ocultar o que fazia, virando a página com uma rapidez alucinante, a mesma página onde pensei ter vislumbrado algo de que não saberia dizer nada. Interroguei-o com convicção… talvez com uma ponta de agressividade, motivada pelo desconforto que sentia em mim próprio.
— Veja, eu compreendo-o… respondeu-me Lucian, o meu amigo psiquiatra, que já havia recuperado a calma. Devo-lhe uma pequena confissão… Acontece que, há pouco tempo, recebi uma proposta para escrever um artigo para uma revista muito conhecida, cujo nome prefiro não revelar. Esse artigo deveria abordar a noção de imagem e a forma como essa noção poderia ser desenvolvida do meu ponto de vista.
Pode imaginar, por assim dizer… que fiquei lisonjeado. Na altura, pensei que não me seria uma tarefa intransponível. Comecei então, e muito rapidamente reuni os elementos do meu artigo, a começar por aquilo que dizia respeito a Platão. Ao iniciar a redação, percebi que, embora até então, como toda a gente, usasse essa palavra, apenas lhe conhecia o sentido geral, nunca nela havia realmente refletido.
Não sabia, portanto, o que é uma imagem, e tive de pôr-me a caminho, intelectualmente, claro, para descobrir e desenvolver a minha própria ideia do que “imagem” quer dizer. Enquanto esperava que “isso” viesse, como lhe disse, comecei com Platão.
— Veja, eu compreendo-o… respondeu-me Lucian, o meu amigo psiquiatra, que já havia recuperado a calma. Devo-lhe uma pequena confissão… Acontece que, há pouco tempo, recebi uma proposta para escrever um artigo para uma revista muito conhecida, cujo nome prefiro não revelar. Esse artigo deveria abordar a noção de imagem e a forma como essa noção poderia ser desenvolvida do meu ponto de vista.
Pode imaginar, por assim dizer… que fiquei lisonjeado. Na altura, pensei que não me seria uma tarefa intransponível. Comecei então, e muito rapidamente reuni os elementos do meu artigo, a começar por aquilo que dizia respeito a Platão. Ao iniciar a redação, percebi que, embora até então, como toda a gente, usasse essa palavra, apenas lhe conhecia o sentido geral, nunca nela havia realmente refletido.
Não sabia, portanto, o que é uma imagem, e tive de pôr-me a caminho, intelectualmente, claro, para descobrir e desenvolver a minha própria ideia do que “imagem” quer dizer. Enquanto esperava que “isso” viesse, como lhe disse, comecei com Platão.
Impossível detê-lo. Se ele quisesse impedir-me de falar, não teria agido de outra forma, e além disso, o que dizia não era desinteressante. Por isso, deixei-o continuar sem interrompê-lo, esperando a minha hora, que certamente chegaria.
– Intitulei o meu artigo: Onde começa a imagem?
E eis-me, diante desse pedido, embaraçado, como se estivesse diante de um espelho no qual ainda não me reconheço. O que é uma imagem? Julgamos saber, mas, assim que nos aproximamos, o chão desaparece sob os pés. Olho à minha volta: ecrãs, cartazes, rostos, reflexos, memórias, fantasmas. Tudo parece imagem, tudo parece querer imaginar-se a si mesmo.
Dizem-nos que vivemos num “reino da imagem”, mas o que é que, afinal, reina? Será a superfície luminosa, ou aquilo que, por detrás dela, aponta para uma ausência? Aceitei o convite sem saber exatamente o que me pediam, senão interrogar essa palavra tão simples e tão obscura: imagem. Desde Platão que somos por ela assombrados. Para o filósofo grego, a imagem é duplamente suspeita: imitação da imitação, sombra de uma sombra, enganadora por essência. E, no entanto, como pensar sem imagens? Mesmo o filósofo mais austero, ao procurar a verdade, avança apenas através de figuras: a caverna, a linha, o sol. O pensamento, ele próprio, precisa de imagens para se figurar o que persegue. Talvez seja aí que devamos começar: com a confissão da ignorância. Como Sócrates, dizer “não sei o que é uma imagem” — e caminhar. Caminhar por essa floresta de formas, de brilhos e de simulacros. Procurar não uma definição, mas um caminho, uma experiência da imagem, no que ela tem de vivo, de inquietante, de indeciso. Walter Benjamin escreveu que a imagem é aquilo que surge num relâmpago, no momento do perigo. Para ele, não é representação, mas interrupção do tempo, colisão entre o passado e o presente. Roland Barthes via, na fotografia, não o eterno retorno do mesmo, mas a ferida do tempo: isso foi. Entre estes dois gestos, o relâmpago benjaminiano e a picada barthesiana, talvez se desenhe um território: aquele em que a imagem não é cópia nem símbolo, mas acontecimento. Penso que talvez, antes de pensar a imagem, seja preciso vivê-la. Deixar vir o que ela faz, em nós, a nós.
Porque uma imagem não é apenas o que vemos: é aquilo que nos olha. Nesta série de artigos, gostaria de avançar às apalpadelas, na companhia de outros, pintores, fotógrafos, filósofos, místicos também, para tentar aproximar-me do que significa, hoje, ter uma imagem do mundo. Não para acabar com as imagens, mas para aprender a vêlas de outro modo.
E, para isso...
Continua…

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