samedi 15 novembre 2025

Pouco antes da auroras

 
“As palavras que acabamos de pronunciar,
O tempo, no seu voo,
Já as levou consigo, e nada retorna.”

Odes, Horácio, versão de Giulio Galetto


Lentamente, Igniatius acredita lembrar-se, embora não passem de fragmentos de sensações fazendo surgir algo que se parece com uma memória… Raízes entrelaçadas emergem num murmúrio e lhe dizem algo que lhe recorda outras coisas…
— É loucura suprema ver a vida tal como ela é e não como deveria ser… As coisas são apenas aquilo que aceitamos acreditar que são.
— Uma memória, sem dúvida, pensa ele, mas qual? Estou a pensar ou a perceber?
Uma coisa leva à outra, e nesse ritmo uma viagem inteira lhe aparece.
— Tínhamos alcançado o arquipélago pouco antes da aurora… eu me lembro…
Há vários dias, o horizonte estava manchado por uma névoa cinzenta que não parecia nem nebulosa nem marinha: era cinza suspensa no ar. Para sudoeste, roçando o céu, erguiam-se silhuetas estranhas — não nuvens, mas picos, cones, falésias. Reconheci logo, por sua forma afilada e pelo seu alinhamento irregular, a marca de uma cadeia vulcânica. Foi com uma emoção misturada de assombro e temor que compreendi que estávamos prestes a chegar a terras ainda em formação, onde a crosta do mundo ainda não terminou de endurecer.
O desembarque fez-se com dificuldade, pois a ondulação constante não deixa nenhuma enseada em paz. A ilha principal não possui praia, apenas rochas cortantes como lâminas de sílex negro, sobre as quais a arrebentação se abate com fúria rítmica. Sobe-se literalmente pela rocha como quem assalta uma fortaleza. Pisei um solo ainda quente em alguns lugares, fendido, deixando escapar de certas fissuras um vapor acre e salgado.
Aprofundei-me sozinho no interior, guiado apenas pelo instinto do geólogo. Esse solo, embora estéril à primeira vista, fala como uma língua antiga. Diz-me tudo: o jorro da lava, a estratificação das cinzas, as ejeções explosivas seguidas da lenta agonia do fogo. Meço inclinações, observo a granulação das escórias, recolho um fragmento de tufo vermelho numa falha.
E, no entanto, não é apenas a ciência que me comove aqui. É a sensação rara de assistir ao mundo num dos seus momentos de criação. Como se a Terra, naquela manhã, ainda estivesse escrevendo seus próprios alfabetos geológicos. Vi correntes de basalto petrificadas num movimento que lembra o de uma onda voltada sobre si mesma. Vi cavernas escavadas por bolhas de gás colossais, que a lava solidificou como cavidades de vidro soprado. Encontrei até, num paredão protegido do vento, um pequeno aloé carnudo, a única planta da ilha, enraizado numa fenda úmida onde as gaivotas talvez depositem guano há várias gerações.
Ao cair da noite, subi a um promontório que domina todo o arquipélago.
De lá pude contemplar a procissão das ilhas. Algumas são apenas cones negros fumegantes; outras parecem desabadas sobre si mesmas, como crânios rachados. A água fumega em certos pontos, onde nascentes termais se derramam. Julguei ouvir, no bramido surdo sob os meus pés, o lamento ou o canto dessas ilhas ainda em formação.


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