samedi 25 octobre 2025

Rumo a uma cartografia incerta

 


No momento em que escrevo estas palavras e o momento em que o que escrevo aconteceu, muito tempo se passou — tempo durante o qual não deixei de pensar e repensar, de formular e reformular aquilo que, por si só, não cessava de se transformar.

Enquanto isso, atrás de nós, o desenho que eu havia trazido — cuja origem eu desconhecia, assim como o nome de seu autor — tomava proporções inquietantes.
Meu amigo Lucian, embora bastante apreensivo, de pé sobre a poltrona, dizia-me que havia começado a escrever uma série de artigos — não para pôr fim às imagens, mas para aprender a vê-las de outro modo.
E para isso… era difícil fingir que eu não percebia o quanto ele fugia de algo a que eu não tinha acesso.
Mas a paciência estava do meu lado… Eu o deixava continuar…
Falava dos seus artigos e eu o escutava — não sem certo prazer.

– Nesta série de artigos, eu queria avançar às apalpadelas, em companhia dos pintores, dos fotógrafos, dos filósofos, dos místicos e de outros, tentando aproximar-me do que significa, hoje, ter uma imagem do mundo — ou talvez, de forma ainda mais radical, ser uma imagem no mundo. Pois não se trata de abordar o “conceito de imagem” como se trataria de um tema acadêmico, mas de deixar-se atravessar por ele, como por uma onda.

Enquanto falava, todo o seu corpo se agitava sem que ele se desse conta. Curiosamente, a sua voz permanecia de uma calma quase absoluta. Enquanto eu reunia minhas ideias, ele continuava no mesmo tom:

– … Tratava-se, para mim, de tentar compreender não o que a imagem é, mas o que ela faz, o que ela opera em nós, entre nós, ao nosso redor.
A imagem, antes de ser um objeto de pensamento, é uma experiência. Talvez seja aí que devamos começar a desenhar o mapa da nossa investigação: pelos pontos onde a imagem age, se insinua, se impõe, se esquiva.

E de fato, a imagem — agora imprecisa — que havíamos pendurado na parede dele, agia… crescia… impunha-se a tal ponto que a figura, representada de pé sobre uma rocha, e na qual eu havia, de longe, imaginado certa semelhança com Lucian, já não era visível…
O peixe, representando o Leviatã, parecia ter avançado…
Do lugar onde eu estava, podia-se dizer que a figura, agora invisível, fora substituída por meu amigo Lucian, de pé sobre a sua poltrona… vermelha…
Seria aquilo um dos efeitos do que chamamos acaso?

– Vejo, ao longe, vários caminhos que se entrecruzam, e cada um traz o nome de um companheiro de jornada.

Durante o tempo dessa reflexão, eu havia perdido o fio do seu discurso — a tal ponto que cheguei a acreditar que ele me falava tendo tido os mesmos pensamentos que eu… o que estava longe de ser o caso. Ele apenas prosseguia.
Abstive-me de questioná-lo, sabendo muito bem que, em tais circunstâncias, nada poderia detê-lo — nem mesmo a boca do monstro que se aproximava perigosamente da sua poltrona.

– Haverá o caminho dos filósofos, é claro — de Platão, suspeita fundadora, a Deleuze, para quem a imagem é movimento puro, fluxo de percepção.
Será preciso passar por Merleau-Ponty, que via na visão uma espécie de reversibilidade: o visível e o vidente entrelaçam-se. Ver é ser visto.

Para ver — ele tinha visto… ele via… De pé sobre a poltrona, não podia ignorar as línguas de fogo que o contornavam, mas que em nada o impediam de continuar.

– Mas haverá também o caminho dos artistas: aqueles para quem a imagem não é conceito, mas matéria, luz, pigmento, ritmo. Iremos até os pintores — Giotto, Caravaggio, Turner, Rothko — e até os fotógrafos — Nadar, Arbus, Cartier-Bresson, Francesca Woodman. Todos eles, de uma forma ou de outra, interrogam a mesma coisa: não o que mostram, mas como aquilo nos olha.

E para ser olhado… ele o era… nós o éramos… imitando o percurso das línguas de fogo, os tentáculos que terminavam em olhos, como os tentáculos do bagre.

– E depois, será preciso seguir o caminho dos místicos, pois eles também se confrontaram com a imagem — não como representação, mas como manifestação.

Para manifestar-se, a nossa imagem se manifestava.

– Para os iconófilos bizantinos, a imagem não era uma cópia: ela tornava presente aquilo que mostrava.

Se o desenho devia tornar presente o que mostrava… então era hora de inquietar-se.
Como conseguia Lucian manter a calma?

– Para eles, a imagem não é “como” Deus; é o seu traço, o seu brilho sobre o visível. Talvez aí resida uma das primeiras teorias da presença através da imagem.

Por fim, haverá o caminho dos modernos, onde a imagem se torna técnica, industrial, algorítmica — a tela, a câmera, o fluxo interminável dos pixels. Aqui, os rostos se confundem com seus reflexos. A imagem já não é apenas um quadro: é um mundo, uma economia, uma potência. Debord já falava da “sociedade do espetáculo”, mas hoje o espetáculo tomou os nossos rostos, os nossos gestos, os nossos próprios pensamentos.

Diante dessa multiplicidade, não se trata de impor uma hierarquia nem uma cronologia.
É preciso, ao contrário, aceitar perder o controle: fazer desse percurso uma arqueologia móvel da imagem.

A verdade seria dizer que nem um nem outro de nós tinha coragem de encarar o mistério que se desenrolava diante de nós, e do qual ambos queríamos escapar… Lucian o fazia pelas palavras, e eu pelo gesto — vão, aliás — de tentar sair da imagem.

– À maneira de Didi-Huberman, tratar-se-á de ler as imagens como sobrevivências — estilhaços do tempo, cicatrizes do olhar.
Ainda não sei quantas etapas essa travessia comportará. Sei apenas que ela deverá seguir as próprias formas da imagem: fragmentária, reversível, incerta.

Haverá escalas:
– sobre a imagem como memória, onde Benjamin encontra Proust;
– sobre a imagem como ferida, onde Barthes fala da fotografia e do luto;
– sobre a imagem como resistência, em Pasolini ou Godard;
– sobre a imagem como simulacro, em Baudrillard e Virilio;
– e, por fim, sobre a imagem como corpo, quando o visível se torna carne.
Tantos fragmentos de um mesmo desejo: compreender por que, hoje, já não sabemos se olhamos o mundo ou se é o mundo que nos olha.

Teria ele percebido até que ponto esse último pensamento tomara corpo — encarnara — naquela imagem que deveria ter-nos inquietado?

– Pois talvez, no fim das contas, não sejamos nós que possuímos as imagens, mas elas que nos possuem. E é a partir dessa inquietação — a de um olhar que se volta contra nós — que essa viagem começará de fato.

Do meu ponto de vista, posso afirmar — ainda que sem muito fundamento — que ela já havia começado.
Não sei como… mas, mesmo sem conhecer todos os detalhes, eu tinha certeza disso.

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