Chegada a noite, Félix, com o espírito cansado, ainda absorvido pelas histórias de Lucian e de Igniatius, também chamado Don Carotte, e do seu burro, entrega-se às suas pequenas paixões. Poeta de domingo, em total liberdade, sem outro travão senão os limites da sua imaginação, deixa-se levar a escrever, convencido de que esse abandono poderá levá-lo aonde outros colegas recusam ir. Sem mais obstáculos, as imagens afluem sem cessar e Félix, sem saber como, vai-as deitando no papel dos seus cadernos. Em breve, a escrita e o desenho já não são senão uma só coisa…
Já não há gritos. Já não há passos. Só o vento, passo a passo,
Atravessa na noite as altas bancadas de madeira.
A pista, outrora rainha, é uma cinza branca;
Cordas pendentes tremem como ramos.
Este lugar foi um teatro, já não é mais que um suspiro.
Mas as ruínas por vezes recomeçam a luzir.
Pois a escuridão vasta, tomando o lugar do mundo,
Revela a luz nas suas profundezas sombrias,
E neste negro total, o passado, a tremer,
Ergue-se como um astro no coração do firmamento.
Os seus passos errantes, o seu fôlego e os seus medos sem clareza.
Aqui que a Orelha de Ouro, numa frisa vazia,
Ouvia murmurar os espectros tímidos.
Aqui que o Fazedor-de-Sombra, ao abrigo dos cortinados,
Inventava mil vidas, mil rostos, mil ecos.
Aqui que três destinos, sob o fogo das estrelas,
Tentavam compreender-se através de mil véus.
O circo, agora deserto, oferece-se ainda
Como um túmulo vivo que guarda e devora.
Mas a alma deste lugar, sob o pó em brasa,
Pulsa como um grande coração esquecido pelos deuses.

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