– Igniatius… ou Dom Cenoura, se preferir… quer retomar o seu relato onde o tinha deixado?
– Quer dizer quando eu estava prestes a entrar na goela do monstro!
– Sim…
– Já não sei se estou a contar uma história ou se, tal como o senhor, conto coisas sobre essas imagens que lhe trouxe… Está mais do que na hora de me dizer o que vê nelas.
– Veja, Igniatius, do fogo interior ao oceano do inconsciente vai apenas um pequeno passo, uma pequena porta que o senhor, ou Dom Cenoura, me parecem prontos a abrir…
– A porta… a goela está aberta há muito tempo, senhor Lucian…
– Tem razão. Nas imagens anteriores, tudo se passava num espaço fechado, centrado no trono e no fogo. Aqui, a cena abre-se: o cenário tornou-se cósmico e caótico.
O fogo prometeico aventura-se agora para fora do santuário interior e enfrenta a matéria do mundo — as profundezas aquáticas, símbolos do inconsciente colectivo segundo Jung.
O herói prometeico — o senhor, Dom Cenoura — vai agora descer às águas primordiais: é a “descida aos infernos” do fogo da consciência.
O fogo das línguas e a água (as ondas, a criatura) opõem-se e entrelaçam-se:
é o encontro dos dois elementos fundamentais da alquimia — o Espírito (enxofre) e a Alma (mercúrio).
Esse encontro anuncia uma crise, mas também uma possível união dos contrários — o coração do processo alquímico…
– Não sei se devo acreditar em si, senhor Lucian… julgava-o meu amigo… mas, se devo, então creio que é também a sique devo combater…

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